terça-feira, 29 de maio de 2012

Experimentando ser "mimimi"

Não sei se faço bem em externalizar esse turbilhão que passa aqui dentro, mas foi tu mesmo, menino, quem causou isso aqui. Encantou-me e desarmou-me com um sorriso largo. Ainda lembro do seu cheiro cativando minhas narinas enquanto dançávamos e sorríamos em meio a tantos. Não sei se faço bem em lhe querer assim, tão avidamente, mas foi tu mesmo menino quem causou isso aqui. Conseguiu me arrancar sorrisos ternos que há tempos tinham sido soterrados em meio às caixas de memória, escudos e fantasias de um baile que nunca aconteceu. Conseguiu me fazer sentir como há muito não sentia: eu, apenas eu, sem a necessidade de fingir ser. Não sei se faço bem em desejar que você seja meu, mas foi tu mesmo menino quem causou tudo isso. Vontade de mostrar a você que é possível abraçar o mundo. Vontade de mostrar a você quão doce é o meu afago. Não sei se faço bem em lhe falar agora, mas foi tu mesmo menino quem causou tudo isso. Tenho medo de assustá-lo, medo de deixá-lo inseguro. Mas quero que você entenda que também sinto esse medo. Mas é que só sei sentir assim aos montes; sendo urgente. Sempre fui intensa demais pra conseguir abafar o que passa aqui. E mesmo não sabendo se faço bem em sentir, falar, pensar, me vem a vontade de dançar novamente com você. Mas dessa vez, sou eu quem te encantarei e te cantarei aos ouvidos. E serás como tudo começou: em um tímido dois pra lá e dois pra cá...
Depois que escreveu, ficou olhando o cursor piscar na tela,como se estivesse exigindo uma decisão da parte dela: apertar o "Enter" ou não? Resolveu tirar as palavras carregadas de confissão daquela minúscula caixa e colocar num lugar tão espaçoso quanto o que estava sentindo. E pôs num lugar sem saber se os olhos dele alcançará; sem saber se um dia mostrará aquilo que escreveu enquanto seu coração batucava e sorria por ele.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ser chuva

E por conter uma alma tão leve, se expandiu, materializou-se entre nuvens e lá foi chuva. E sendo chuva, alcançou a graça de percorrer o corpo que desejou visitar, habitar, ser. O corpo ao qual queria se prender, mesmo sabendo que era leve demais pra isso. Por isso se desfez em gotas, e em gotas penetrou os poros. Se misturou com o cheiro, dançou em veias e músculos, evaporou em um sorriso suave. Intenso, contraditoriamente sutil; fugaz.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Abstrato concreto

Afaga-me o cabelo enquanto seus dedos distraem-se no cacheado que ele tem. Com o corpo contraído, tento controlar essa profusão de reações na qual o espiríto se deleita.
Teus olhos pedintes me encaram, ávidos por mais doses de mim.Meus lábios secos, em vão, ensaiam algumas palavras, mas não há som nelas. Reparo suas mãos inquietas clamando-lhe a posse sobre meu corpo por mais um instante. Meus olhos, medicantes por vez, imploram que me beba o suor; imploram para que a tua língua lamba meu gosto entranhado nos poros da pele. Involuntariamente, insinuo-me em sua direção, projetando meu corpo ao seu, fazendo-lhe espectador cativo dos meus lentos movimentos.
Rígidos porém suaves, meus seios encontram seu peito, travando um contato intenso. O arrepio é a resposta dos corpos a proposta explícita. As pernas, antes afastadas, entrelaçam-se naturalmente, sinalizando o desejo de ambos em se fazer perto.
É aí que novamente meu espírito se doa aos apelos carnais e as reações em cadeia dos sentidos. Então abro os olhos e percebo o quão concreto pode ser as abstratas lembranças.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Eu, rio


Irriga-me o desejo com a lascívia que mora em sua língua, homem, e eu, mulher, serei rio em teus lençóis.

Saudade

Cerrei os olhos por segundos e a sensação da qual estava correndo me tomou: a boca secou, as mãos tremeram, suor na testa, pernas bambas e pulsação acelerada...

Maldito seja, ó músculo bandido. Batucas tanto pra no fim ficar apertadinho de saudade. Vê se pode uma coisa dessa Maria?

Menino vem cá

Vem, vem pra perto menino
Não se acanhe em pedir colo.
Vem, deita cá ao meu lado
E eu te mostro, menino, que é possível abraçar o mundo
Eu te mostro como é largo o meu afago.

Brevemente...


Me fazer em gotículas depois de condensar minha alma.

Ô Iaiá, é verão!

Ô Iaiá, espanta esse olhar saudoso e corre pra areia, pra pertinho do mar; deixa ele lamber teus pés e recuar satisfeito.
Corre Iaiá! Desfaz-se já dessa melancolia! Veste as cores quentes e mostra esse sorriso largo que tens.
Porque tens uma alma quente, um músculo involutário oco e ao mesmo tempo cheio de samba e avidez de vida, conhecimento; de amores.

Corre, se achegue Iaiá, ainda é verão! Traz um sorriso quente e cai na roda de samba.
Vem que tu és filha do tempo.

A testemunha mar




O silêncio fazia nó na garganta e os lábios estavam involuntariamente trêmulos.
Sua respiraçao era um pouco ofegante acompanhada de um sorriso tímido e nervoso. As mãos suadas tremiam levemente ao segurar as minhas. Cerramos os olhos e foi com a memória do tato e do cheiro que construímos aquele instante: te li e te marquei em mim com as mãos.
Fazia todo e nenhum sentido estar ali e o mar era testemunha muda.
Cantei-lhe uma cantiga, em segredo, para que teus ouvidos sempre recordassem minha voz.
Ensinaste a mim, meu menino, a sorrir sem ser escravo de motivos e me embebedaste com seu sorriso constante.

Foi nesse momento então, entre sussurros, segredos e risos, que meu coração malandro compôs um samba, um batuque acelerado e a noite se fez apoteose: me tomaste em teus braços e trouxe o seu peito, que também batucava, pra perto de mim; seus braços transbordavam um aconchego que me aqueceu e me satisfez.

Nossas bocas segredaram algo na língua de Neruda.

E o mar era testemunha surda.